Quero
iniciar parabenizando o senhor pelas belas palavras com que usou e se
pronunciou no seu texto. Percebo que teve excelentes professores que te
ensinaram a escrever bem e principalmente a fazer contas matemáticas. Parabéns
a estes professores que souberam formar bem o senhor!
Primeiro,
não acho sua pergunta “professor ganha mal?”
uma cacofonia, afinal essa pergunta ecoa sempre que “esta classe” reivindica
melhores salários.
Na
verdade acho que esta deveria ser uma pergunta que deveria ser feita para todos
que trabalham em qualquer área no Brasil...
Vendedor
ganha mal? Administrador ganha mal?
Agricultor
ganha mal? Juiz ganha mal?
Político
ganha mal? JORNALISTA GANHA MAL?
Em
seu texto ressaltou inúmeras perguntas “sem
respostas” e fez questão de deixar claro que acredita que “nós professores” damos prejuízo ao
erário.
Também
quero esclarecer algumas coisas para o senhor que infelizmente não cabia apenas
aos professores lhe ensinar, mas ao
Estado e principalmente sua família.
Quando
o senhor diz que não existe relação entre o salário do professor e o que o
aluno aprende, o senhor está correto.
Entenda
Caro senhor Cláudio Moura, ESSA RELAÇÃO NÃO TEM QUE EXISTIR. O aprendizado do
aluno não está relacionado ao que entra em minha conta bancária, ou ao que
gasto no meu mês, mas isso tem que está relacionado ao que é ensinado, a junção
dos recursos e suportes pedagógicos e administrativos que o Governo oferece para subsidiar a
educação e principalmente a disposição
que o aluno tem em aprender e se tornar alguém melhor.
Chega
a ser cômico o senhor ressaltar que no passado morria-se mais cedo e hoje
vivesse mais e por isso o gasto com aposentadorias é maior. É triste perceber
que “hoje” pessoas como o senhor acreditam que a culpa dos prejuízos
financeiros do país e do professor que está vivendo demais e deveria viver
menos.
É
chocante perceber que hoje ainda existem pessoas, que como o senhor, acham que
a culpa dos prejuízos financeiros do país é dos professores que tiram férias,
têm recessos, licenças prêmios, “absurdamente” fazem mestrado e doutorado ou a
maioria (que são mulheres) descabidamente têm filhos e por isso abusam das
licenças maternidade de 6 meses.
Aí o
senhor pergunta: Ótimo para eles, mas quem paga a conta???
Tenho
a resposta para o senhor: Nós pagamos a
conta. Nós brasileiros pagamos a conta. Não apenas a conta dos direitos adquiridos
por lei dos professores, mas a conta de todos os trabalhadores do país que
foram alfabetizados por professores, que aprenderam a ser gente com
professores, que trabalham, ficam doentes, pegam atestados, tiram licença
maternidade, usufruem de férias e recessos, assim como professores.
Não
são os professores que causam prejuízo ao erário com seus direitos adquiridos
que, a maioria citada não são direitos apenas de professores, mas de inúmeros
servidores públicos. Não é o servidor público que causa prejuízo ao erário
com suas vidas longas insistindo em sobreviver mais de 5 anos após a
aposentadoria.
O
que causa prejuízo ao erário é a
corrupção descabida e desesperada de um país onde a maioria que assume o
governo acha que tem que roubar milhões e que não precisam prestar contas a
ninguém, e pior, acham que podem roubar milhões e que quem tem que pagar a
conta são os descabidos trabalhadores que precisam trabalhar mais para cobrir o
rombo e a falência de um país corrupto e sem princípios morais.
O
problema senhor Cláudio é a troca de valores.
Nos
países de primeiro mundo os professores são valorizados como peça fundamental
do crescimento do país, e os corruptos são julgados e condenados a altura.
Já
em países como o nosso, professores são apedrejados porque tiram meses para se
especializarem em mestrado ou doutorado para dar uma educação melhor a pessoas
como o senhor.
Em
países como o nosso corruptos têm direito a delação premiada, passam dois, três
anos em prisão domiciliar e ficam com os louros das suas roubalheiras.
Em
países como o nosso, pessoas acham absurdo o professor ter direito a
aposentadoria especial de 25 anos, quando não param para pensar que foram 25
anos investindo em seres humanos melhores e mais dignos, 25 anos ouvindo
desaforos de pais, alunos e pessoas que pouco conhecem a dura e árdua rotina de
um professor...
Professores
ruins existem sim senhor Cláudio, como existem médicos ruins, como existem
juízes ruins, como existem JORNALISTAS ruins...
Mas
isso nada tem a ver com o problema da educação em nosso país, mas com valores
morais que se perderam no decorrer dos anos. Isso nada tem a ver com crise
financeira do nosso país que se afunda na corrupção e roubalheira.
É
uma pena perceber que apesar de o senhor ter tido excelentes professores que
lhe ensinaram a escrever e fazer contas matemáticas tão bem, ter se formado e
doutorado como especialista em educação, algo faltou no seu processo de
aprendizado que desvirtuou completamente os seus valores, referente a uma
classe que só te fez bem.
Não
me admiro perceber em seu texto que não dá o mínimo valor para o mestrado e
doutorado, afinal, só se dá valor ao estudo aqueles que compreendem o
verdadeiro valor de um professor, só se dá valor ao estudo aqueles que precisam
dele.
Passamos
a vida aprendendo com alguém, sempre existirão professores que nos ensinarão
algo. Espero que o senhor continue aprendendo, mas acima de tudo valorizando o
aprendizado que teve.
Atenciosamente,
Mariana Inácia de Araújo Silva – Professora com todos os direitos adquiridos de
tal atribuição.