"São suas expectativas que determinam o resultado de seus projetos".

(Fernando Lucchese)

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Resposta ao senhor Cláudio de Moura Castro sobre sua reportagem de 27 de julho de 2016 “Professor ganha mal?”


Quero iniciar parabenizando o senhor pelas belas palavras com que usou e se pronunciou no seu texto. Percebo que teve excelentes professores que te ensinaram a escrever bem e principalmente a fazer contas matemáticas. Parabéns a estes professores que souberam formar bem o senhor!

Primeiro, não acho sua pergunta “professor ganha mal?” uma cacofonia, afinal essa pergunta ecoa sempre que “esta classe” reivindica melhores salários.
Na verdade acho que esta deveria ser uma pergunta que deveria ser feita para todos que trabalham em qualquer área no Brasil...
Vendedor ganha mal? Administrador ganha mal?
Agricultor ganha mal? Juiz ganha mal?
Político ganha mal? JORNALISTA GANHA MAL?

Em seu texto ressaltou inúmeras perguntas “sem respostas” e fez questão de deixar claro que acredita que “nós professores” damos prejuízo ao erário.
Também quero esclarecer algumas coisas para o senhor que infelizmente não cabia apenas aos professores lhe ensinar, mas ao Estado e principalmente sua família.

Quando o senhor diz que não existe relação entre o salário do professor e o que o aluno aprende, o senhor está correto.
Entenda Caro senhor Cláudio Moura, ESSA RELAÇÃO NÃO TEM QUE EXISTIR. O aprendizado do aluno não está relacionado ao que entra em minha conta bancária, ou ao que gasto no meu mês, mas isso tem que está relacionado ao que é ensinado, a junção dos recursos e suportes pedagógicos e administrativos que o Governo oferece para subsidiar a educação e principalmente a disposição que o aluno tem em aprender e se tornar alguém melhor.

Chega a ser cômico o senhor ressaltar que no passado morria-se mais cedo e hoje vivesse mais e por isso o gasto com aposentadorias é maior. É triste perceber que “hoje” pessoas como o senhor acreditam que a culpa dos prejuízos financeiros do país e do professor que está vivendo demais e deveria viver menos.
É chocante perceber que hoje ainda existem pessoas, que como o senhor, acham que a culpa dos prejuízos financeiros do país é dos professores que tiram férias, têm recessos, licenças prêmios, “absurdamente” fazem mestrado e doutorado ou a maioria (que são mulheres) descabidamente têm filhos e por isso abusam das licenças maternidade de 6 meses.

Aí o senhor pergunta: Ótimo para eles, mas quem paga a conta???
Tenho a resposta para o senhor: Nós pagamos a conta. Nós brasileiros pagamos a conta. Não apenas a conta dos direitos adquiridos por lei dos professores, mas a conta de todos os trabalhadores do país que foram alfabetizados por professores, que aprenderam a ser gente com professores, que trabalham, ficam doentes, pegam atestados, tiram licença maternidade, usufruem de férias e recessos, assim como professores.
Não são os professores que causam prejuízo ao erário com seus direitos adquiridos que, a maioria citada não são direitos apenas de professores, mas de inúmeros servidores públicos. Não é o servidor público que causa prejuízo ao erário com suas vidas longas insistindo em sobreviver mais de 5 anos após a aposentadoria.
O que causa prejuízo ao erário é a corrupção descabida e desesperada de um país onde a maioria que assume o governo acha que tem que roubar milhões e que não precisam prestar contas a ninguém, e pior, acham que podem roubar milhões e que quem tem que pagar a conta são os descabidos trabalhadores que precisam trabalhar mais para cobrir o rombo e a falência de um país corrupto e sem princípios morais.

O problema senhor Cláudio é a troca de valores.
Nos países de primeiro mundo os professores são valorizados como peça fundamental do crescimento do país, e os corruptos são julgados e condenados a altura.
Já em países como o nosso, professores são apedrejados porque tiram meses para se especializarem em mestrado ou doutorado para dar uma educação melhor a pessoas como o senhor.
Em países como o nosso corruptos têm direito a delação premiada, passam dois, três anos em prisão domiciliar e ficam com os louros das suas roubalheiras.
Em países como o nosso, pessoas acham absurdo o professor ter direito a aposentadoria especial de 25 anos, quando não param para pensar que foram 25 anos investindo em seres humanos melhores e mais dignos, 25 anos ouvindo desaforos de pais, alunos e pessoas que pouco conhecem a dura e árdua rotina de um professor...
Professores ruins existem sim senhor Cláudio, como existem médicos ruins, como existem juízes ruins, como existem JORNALISTAS ruins...

Mas isso nada tem a ver com o problema da educação em nosso país, mas com valores morais que se perderam no decorrer dos anos. Isso nada tem a ver com crise financeira do nosso país que se afunda na corrupção e roubalheira.
É uma pena perceber que apesar de o senhor ter tido excelentes professores que lhe ensinaram a escrever e fazer contas matemáticas tão bem, ter se formado e doutorado como especialista em educação, algo faltou no seu processo de aprendizado que desvirtuou completamente os seus valores, referente a uma classe que só te fez bem.
Não me admiro perceber em seu texto que não dá o mínimo valor para o mestrado e doutorado, afinal, só se dá valor ao estudo aqueles que compreendem o verdadeiro valor de um professor, só se dá valor ao estudo aqueles que precisam dele.
Passamos a vida aprendendo com alguém, sempre existirão professores que nos ensinarão algo. Espero que o senhor continue aprendendo, mas acima de tudo valorizando o aprendizado que teve.


Atenciosamente, Mariana Inácia de Araújo Silva – Professora com todos os direitos adquiridos de tal atribuição.